segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Remédio tarjado dribla blitz da Lei Seca

Com um largo sorriso no rosto, a atendente de uma pequena farmácia no bairro do Sumaré, zona oeste de São Paulo, não titubeia ao dar a sua prescrição médica um tanto peculiar. “Toma uns cinco, seis comprimidos que melhora a ressaca, é o que falam”, diz ela, sem rodeios, se referindo a um remédio de tarja vermelha que só deveria ser vendido com receita. “Não sei se funciona mesmo, mas tem um pessoal aí que compra para passar pelo bafômetro. Tenta, né?”

Para fugir da Lei Seca, jovens estão usando um remédio indicado para tratamento de alcoolismo e alterações hepáticas: o Metadoxil. Relatos na internet ajudam a propagar ainda mais o uso alternativo da droga. 

Lançada no País em agosto de 2008, seu princípio ativo é o pidolato de piridoxina, um derivado da vitamina B6.

A medicação, pelo menos segundo a bula, “acelera o metabolismo do álcool, aumentando a sua eliminação”. Médicos, no entanto, afirmam que o Metadoxil não tem efeito comprovado e muito menos pode enganar o bafômetro. Pior: ele pode causar transtorno gástrico, erupção cutânea e, em caso de superdosagem, até taquipneia (aumento da frequência respiratória) e convulsões.

Riscos 
“É preocupante isso, porque o motorista não só dirige bêbado como causa um dano ainda maior no corpo”, afirma o capitão da PM Sérgio Marques. Para quem usa outros remédios, ainda há a possibilidade de ocorrer algum tipo de interação medicamentosa, causando até colapso renal.

Muitas farmácias não só vendem sem prescrição como até indicam o remédio. De sete estabelecimentos visitados pela reportagem na zona oeste e no centro da cidade, quatro não pediram receita e dois chegaram a ensinar como mascarar os efeitos de uma noitada.

Para o médico Ronaldo Leão Abud, diretor científico do laboratório que produz o medicamento, ele simplesmente não funciona. “O Metadoxil não engana o bafômetro. Só acelera o metabolismo do álcool. É uma droga tarjada que, usada corretamente, pode salvar vidas”, afirma.

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