Clapton abriu o show com pontualidade britânica, às 21h. Foi das pouquíssimas vezes em que se dirigiu ao público – e a única em que não o fez para dizer “obrigada”. “Quero dedicar meu show a Felipe Massa”, anunciou em inglês, com sotaque carregado no nome do piloto paulista. A amizade do músico pelo piloto é antiga: em 2009, após o acidente quase fatal que sofreu na Hungria, Massa ganhou uma guitarra autografada. Desta vez, o brasileiro recebeu Key to the Highway, que tomou o lugar de Going Down Slow como faixa de abertura do show.
Depois viriam Tell the Truth, Hoochie Coochie Man – cover de um de seus mestres, o bluesman Muddy Waters – e Old Love. Foi aqui o primeiro grande solo de Clapton, que deu à canção uma versão de cerca de dez minutos. O público, com idades que variavam entre vinte e sessenta anos, assistiu concentrado, para explodir em seguida, em Tearing us Apart, um dos momentos mais dançantes do show. De um jeito tímido, Clapton também dançava – bem menos que as suas backing vocals, é verdade.
A agitação durou pouco. De Tearing us Apart, Clapton passou a Driftin’ Blues, que iniciou a segunda parte do show, em que tocou violão sentado. Como as outras duas partes, a primeira e a última, essa teve cinco faixas. A partir de Driftin’, o músico britânico dedilhou velhas e boas como Nobody Knows You When You're Down and Out, Lay Down Sally e When Somedoby Thinks You’re Wonderful. Para fechar a parte calma do repertório, uma canção que colocaria todo mundo de pé novamente, inclusive o próprio Clapton, ao terminá-la: Layla.
Embora mais blueseira e despida da sua introdução clássica, a versão de Layla apresentada no Morumbi foi o ponto alto do show. Ao menos, para o público, que durante o espetáculo foi tão correto quanto o músico, a ponto de um fã, na saída, comentar que aquele havia sido o show “mais civilizado” da sua vida. Sem confusões, sem muita bagunça, sem grandes catarses.
A etapa final foi a mais quente do espetáculo, com solos seguidos de Clapton e de seus músicos: eles atacaram com tudo em Badge, em Queen of Spades e em Cocaine, a mais incendiária das faixas do show. Entre as três, se ouviu ainda a obrigatória Before You Accuse Me e a melancólica – e melosa – Wonderful Tonight, para alguns uma compensação pela ausência da triste Tears in Heaven.
Em tempos de iPhone, não faltaram visores de celular acesos para saudar a balada. Mas Clapton, que depois de Cocaine voltaria para o bis com Crossroads, acompanhado do texano Gary Clark Jr., que abriu a noite no estádio não via quase nada. Ele tocava o tempo todo de olhos fechados, mostrando que, aos 66 anos, ainda tem virtuosismo e prazer em dedilhar a guitarra. Para a sorte do Morumbi, que pôde lavar a alma após duas noites de Justin Bieber.
Assista: Eric Clapton - Cocaine, Morumbi São Paulo 2011
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